Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas saquearam pinturas, esculturas, desenhos, relíquias religiosas e artefatos culturais de valor inestimável de igrejas, universidades, museus e coleções particulares em toda a Europa.
Imagine hoje ir a museus e não ter o privilégio e a alegria de ver obras como a Dama com Arminho, de Leonardo da Vinci; O Astrônomo, de Vermeer; ou o Busto de Nefertiti. Essa possibilidade quase ocorreu, no entanto.
Durante a Guerra, os nazistas confiscaram, roubaram e pilharam um total de cerca cinco milhões de objetos de arte, particularmente aqueles pertencentes a famílias judaicas. Apenas das coleções da família Rothschild, na França, o governo de Hitler confiscou cerca de 5.009 itens.
Na guerra, o roubo de arte está relacionado às tentativas de domínio e destruição de identidade do povo dominado. Após a ocupação da Polônia, por exemplo, com o objetivo de exterminar a cultura desse país, os nazistas saquearam mais de 516 mil objetos de arte, o correspondente a quase 43% do patrimônio cultural polonês. Cerca de 2.800 pinturas de artistas europeus e 11.000 pinturas de artistas poloneses foram levados.
Os saques de obras de arte, que começaram com base ideológica, tornaram-se uma política governamental organizada. Pintor frustrado – Hitler foi rejeitado pela Academia de Belas Artes de Viena – ele tinha como ambicioso plano construir, em Linz, sua cidade natal, um “super museu”, o Führermuseum (Museu do Líder, em português);
Como esse fim, o regime nazista seguiu um plano sistemático e organizado para apreender obras de arte e que, posteriormente, seriam ali exibidas.
As obras de arte saqueadas eram também destinadas a coleções privadas de líderes do Partido Nazista, tais como Hermann Göring. Já as obras consideradas por Hitler como arte “degenerada”, tais como as Cubistas, as Expressionistas, as Futuristas, as Dadaístas ou qualquer escola que se desviasse do representacionalismo clássico, as quais ele considerava produto de uma sociedade decadente, eram vendidas a compradores em países neutros, como a Suíça, com o objetivo de levantar capital para a compra tanto de materiais para a máquina de guerra nazista, quanto para obras de arte para o futuro Museu do Líder.
Por volta do final da guerra, as obras de arte saqueadas estavam armazenadas em diversas localidades, tais como mosteiros, bunkers militares e castelos, mas alguns dos maiores repositórios estavam dentro de minas de sal, que, além de estarem protegidas contra bombardeios aliados, ofereciam as condições adequadas de umidade e temperatura para as obras de arte. Juntos, eles continham literalmente dezenas de milhares de itens de importância cultural, histórica e financeira insubstituível.
Grande parte dessas obras e artefatos foi recuperada por agentes de um programa criado pelo Aliados, Monuments, Fine Art, and Archives (MFA&A), conhecido como Monuments Men. O programa era formado por um grupo de agentes americanos e britânicos – diretores de museus, curadores, historiadores de arte, arquitetos e outros – cuja função era proteger a propriedade cultural da destruição e encontrar e resgatar obras de arte e outros artefatos culturais que os nazistas haviam apreendido.
O filme The Monuments Men (2014) ou Caçadores de Tesouros, em português – estrelado por George Clooney, Matt Damon, Bill Murray and Cate Blanchett – conta os desafios deste grupo de agentes que, em uma luta contra o tempo, arriscaram suas vidas vasculhando a Europa, para resgatar e preservar os tesouros artísticos saqueados.
Na foto acima, agente do Monuments Men, o director de museu James Rorimer, que inspirou o personagem de Matt Damon no filme, supervisiona soldados americanos retirando pinturas do Castelo Neuschwanstein, na Alemanha. Apenas desse castelo foram utilizados 52 caminhões, para remover 634 caixotes de objetos de arte.
Em 1945, os Monuments Men descobriram a respeito da mina de sal de Altaussee. A instrução de Hitler era que, na hipótese de ele morrer ou os alemães perderem a guerra, todos os repositórios de arte, inclusive este, deveriam ser implodidos. Com a guerra terminando e a Alemanha do lado errado, oito bombas de avião foram colocadas na entrada da mina de sal. Felizmente, mineradores austríacos de Altaussee se recusaram a seguir as ordens de Hitler.
Isso deu tempo para os Monument Men chegarem até a mina e salvarem as obras. Após dias de escavação, sem saber o que iriam encontrar, eles se depararam com importantes tesouros culturais da Europa, tais como a Madonna de Bruges, de Michelangelo, o Altar de Ghent, pelos irmãos Van Eyck, obras de Rubens, Rembrandt, Vermeer e Dürer.
Esses bravos heróis não apenas localizaram e resgataram obras desses repositórios, como também supervisionaram sua proteção, catalogação, embalagem, remoção e devolução.
Os Monuments Men fizeram um grande trabalho. Sem seu persistente e corajoso trabalho, muitos dos tesouros que durante séculos definiram a herança da civilização ocidental teriam sido perdidos.
Ronald Balfour
Agente do Monuments Men
Historiador especializado em arte medieval, com atividades em Cambridge e Kings College, morto em 1945, em Cleve, na Alemanha, por uma explosão de munições, enquanto ele e outros homens tentavam realocar peças de um retábulo medieval em segurança. Foi o primeiro dos dois Monuments Men mortos em ação.
Nenhuma era vive inteiramente sozinha; toda civilização é formada não apenas por suas próprias realizações, mas pelo que herdou do passado. Se essas coisas são destruídas, perdemos uma parte do nosso passado e seremos mais pobres por isso.
3 Comments
Maravilhosa pesquisa! Parabéns!
Grande parte do conhecimento humano quase foi perdido. Obrigada por nós trazer essas histórias maravilhosas.
Excelente e rica matéria.